This is a blog where one can find some Brazilian contemporary poetry.
segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
meu mundo sucumbe
a tudo que não fui e não sou
o vazio se faz cheio
e transborda
quedo-me fragmentado
em infinitas faces me disfarço
e me desfaço
a razão se faz loucura
e transborda
a palavra perde o poder
o ritmo do meu pulso
cala minha voz
o dia se faz noite
e transborda
de muito além (ou aquém)
de trilhas não pisadas
vem o comando
o ser se faz não-ser
e transborda(abr/1985)
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
Ártico
não há coração nestas linhas
as palavras secas ao leve
toque se despedem
da branca planura
e vão ao léu
sem rumor
versos ressequidos vão
sem rumo
sem rumo
v
i
r
a
n
d
o
pó
tocados por dedos a esmo não adianta procurar o leite e o mel
tocados por dedos a esmo não adianta procurar o leite e o mel
a canção dos
marinheiros
a terra à vista
a terra à vista
não se ouvirão alvíssaras neste poema
no branco rarefeito
no branco rarefeito
apenas o silêncio ártico ao sol da meia-noite
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
Back/s/lash
between one world and another
here and there
in and out
between
between
the heartbreak and the milkshake
between
the last and the next breakfast
after the earthquake
a look at and a thought of/off
the land/out/scape
the abyss/sense
the vert/ego
grammato/ontological delirium
back/baquic/ground
in time/s/pace
(EL, dez/2000)
(EL, dez/2000)
domingo, 10 de fevereiro de 2013
Perfeição
um fruto cai no silêncio da noite
sazonado à plenitude
são resiste à atração da terra
e rompe
entre muitos que ficam
ele cai
todo glória e perfeição
no seu surdo encontro com o chão
chama para si o universo
está acabada a obra
e nada foi perturbado
(nov/1994)
(nov/1994)
sexta-feira, 25 de janeiro de 2013
Olhar de viés
tivera os olhos bem abertos
o real não teria esta rusga arredia
a pele do mundo talvez fosse mais lisa
tivera-os bem fechados
não ouviria o estrépito do gesto espasmódico
se intrometendo na visada involuntária
olhar inesperado
de esgueia
imagem
que escorrega
para o canto
num esgar
apertado
no canto do olho
inesperado cisco
sobe à retina esgarçada
ali não fica mais que um átimo
suficiente para assombrar no porão
a perene imaginação sob o régard
e num relâmpago irromper nas rachaduras do daydreaming
risco ruidoso que rasga o véu viscoso da vigília
distraída no limiar entre o céu e a bomba do posto de gasolina
entre o azul e o cartão de crédito
miragem de escanteio
na visada da córnea
mirada de corner
diagonal
deslize de íris oblíqua
pupila deslocada catando o pedaço de espaço que não coube no tamanho do instante:
espectro infame de um fantasma estrábico a girar no globo vazado
não houvera desejos o dia seria raso
as pontas do olhar anguloso se encontrariam
o tempo não escorreria para dentro da moldura
e aquela imagem vesga não ficaria ali
presa de viés em vez de fugaz
seria soprada ao invés de cingir-se aos cílios
arranhando a superfície vítrea sob a pálpebra musgosa
(out/2010)
(out/2010)
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
Novus orbis nascitur ordo
o fruto podre precipita
em toda sua vã glória corrupto
enquanto o velho visionário enclausurado
com voz surda o final abrupto antecipa
e da mais funda e ignota natureza
uma criança inocente grita
um novo Ulisses transfigurado
que conduzirá num périplo a humanidade fraca
em sua nave sob um novo fado
no sempre horizonte a mesma Ítaca
enquanto o mortal peso da incerteza
fará confundido
lado a lado
o certo e o errado
o rei e a massa
o vaso e o iconoclasta
o vaso certo o rei errado a massa iconoclasta
(mai/1996)
terça-feira, 8 de janeiro de 2013
Na estrada
em frente camarada
tira de um alento
o teu mais caro sustento
faz do instante tua morada
fita ao longe o horizonte
o que foi sombra ontem
amanhã será nada
finge um sentimento
finca um pensamento
esquece o desalento
verifica o tempo
o rumo do vento
e pé na estrada
(abr/1985)
(abr/1985)
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