segunda-feira, 4 de novembro de 2013



o silêncio prevalece
meu mundo sucumbe
a tudo que não fui e não sou
o vazio se faz cheio
e transborda

quedo-me fragmentado
em infinitas faces me disfarço
e me desfaço
a razão se faz loucura
e transborda

a palavra perde o poder
o ritmo do meu pulso
cala minha voz
o dia se faz noite
e transborda

de muito além (ou aquém)
de trilhas não pisadas
vem o comando
o ser se faz não-ser
e transborda

(abr/1985)

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Ártico




não há coração nestas linhas
as palavras secas ao leve
toque se despedem
da branca planura
e vão ao léu


sem rumor
                        

versos ressequidos vão 
                                               sem rumo
v
  i
   r
     a
       n
           d 
               o

pó 
tocados por dedos a esmo não adianta procurar o leite e o mel 
a canção dos marinheiros 
a terra à vista
não se ouvirão alvíssaras neste poema
no branco rarefeito
apenas o silêncio ártico ao sol da meia-noite

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Back/s/lash




between one world and another
here and there
in and out
between
the heartbreak and the milkshake
between
the last and the next breakfast
after the earthquake
a look at and a thought of/off
the land/out/scape
the abyss/sense
the vert/ego
grammato/ontological delirium
back/baquic/ground
in time/s/pace

(EL, dez/2000)

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Perfeição


um fruto cai no silêncio da noite
sazonado à plenitude
são resiste à atração da terra
e rompe

entre muitos que ficam
ele cai

todo glória e perfeição

no seu surdo encontro com o chão
chama para si o universo

está acabada a obra
e nada foi perturbado

(nov/1994)

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Olhar de viés



tivera os olhos bem abertos
o real não teria esta rusga arredia
a pele do mundo talvez fosse mais lisa

tivera-os bem fechados
não ouviria o estrépito do gesto espasmódico
se intrometendo na visada involuntária

olhar inesperado

de esgueia


                                   


imagem                     
que     escorrega
             
 para o canto



         do mundo

                                                                  
num esgar
            apertado


no canto do olho


inesperado cisco


sobe à retina esgarçada
ali não fica mais que um átimo
suficiente para assombrar no porão
a perene imaginação sob o régard

e  num relâmpago irromper nas rachaduras do daydreaming

risco ruidoso que rasga o véu viscoso da vigília
distraída no limiar entre o céu e a bomba do posto de gasolina
entre o azul e o cartão de crédito


miragem de escanteio
                                      na visada da córnea
mirada de corner
                        diagonal
                                      deslize de íris oblíqua                                   
                                                                                              
pupila deslocada catando o pedaço de espaço que não coube no tamanho do instante:
espectro infame de um fantasma estrábico  a girar no globo vazado

não houvera desejos o dia seria raso
as pontas do olhar anguloso se encontrariam
o tempo não escorreria para dentro da moldura
e aquela imagem vesga não ficaria ali
presa de viés em vez de fugaz
seria soprada ao invés de cingir-se aos cílios
arranhando a superfície vítrea sob a pálpebra musgosa

(out/2010)

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Novus orbis nascitur ordo




o fruto podre precipita
em toda sua vã glória corrupto
enquanto o velho visionário enclausurado
com voz surda o final abrupto antecipa
e da mais funda e ignota natureza
uma criança inocente grita

um novo Ulisses transfigurado
que conduzirá num périplo a humanidade fraca
em sua nave sob um novo fado
no sempre horizonte a mesma Ítaca
enquanto o mortal peso da incerteza
fará confundido
lado a lado
o certo e o errado
o rei e a massa
o vaso e o iconoclasta

o vaso certo o rei errado a massa iconoclasta


(mai/1996)

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Na estrada




em frente camarada
tira de um alento
o teu mais caro sustento
faz do instante tua morada
fita ao longe o horizonte
o que foi sombra ontem
amanhã será nada

finge um sentimento
finca um pensamento
esquece o desalento
verifica o tempo
o rumo do vento
e pé na estrada

(abr/1985)