A PIEDADE
Eu urrava nos poliedros da justiça meu momento
[abatido na extrema
paliçada
os professores falavam da vontade de dominar e da
[luta pela vida
as senhoras católicas são piedosas
os comunistas são piedosos
os comerciantes são piedosos
só eu não sou piedoso
se eu fosse piedoso meu sexo seria dócil e só se ergueria
aos sábados à noite
eu seria um bom filho meus colegas me chamariam
[cu-de-ferro e me
fariam perguntas por que navio bóia? por
que prego afunda?
eu deixaria proliferar uma úlcera e admiraria as
[estátuas de
fortes dentaduras
iria a bailes onde eu não poderia levar meus amigos
[pederastas ou barbudos
eu me universalizaria no senso comum e eles diriam
[que tenho
todas as virtudes
eu não sou piedoso
eu nunca poderei ser piedoso
meus olhos retinem e tingem-se de verde
Os arranha-céus de carniça se decompõem nos
[pavimentos
os adolescentes nas escolas bufam como cadelas
[asfixiadas
arcanjos de enxofre bombardeiam o horizonte através
[dos meus sonhos
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