tivera os olhos bem abertos
o real não teria esta rusga arredia
a pele do mundo talvez fosse mais lisa
tivera-os bem fechados
não ouviria o estrépito do gesto espasmódico
se intrometendo na visada involuntária
olhar inesperado
de esgueia
imagem
que escorrega
para o canto
num esgar
apertado
no canto do olho
inesperado cisco
sobe à retina esgarçada
ali não fica mais que um átimo
suficiente para assombrar no porão
a perene imaginação sob o régard
e num relâmpago irromper nas rachaduras do daydreaming
risco ruidoso que rasga o véu viscoso da vigília
distraída no limiar entre o céu e a bomba do posto de gasolina
entre o azul e o cartão de crédito
miragem de escanteio
na visada da córnea
mirada de corner
diagonal
deslize de íris oblíqua
pupila deslocada catando o pedaço de espaço que não coube no tamanho do instante:
espectro infame de um fantasma estrábico a girar no globo vazado
não houvera desejos o dia seria raso
as pontas do olhar anguloso se encontrariam
o tempo não escorreria para dentro da moldura
e aquela imagem vesga não ficaria ali
presa de viés em vez de fugaz
seria soprada ao invés de cingir-se aos cílios
arranhando a superfície vítrea sob a pálpebra musgosa
(out/2010)
(out/2010)
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